Achados: de paraíso a lixeira a céu aberto

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A Ilha de Santa Luzia, em Cabo Verde, tem andado nas bocas do mundo devido à grande afluência de lixo vindo de todo o mundo a uma das praias da ilha: a Praia dos Achados, que foi batizada com este nome por todas as razões óbvias. A SPEA (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves) deu o alerta, pela voz de duas pessoas que felizmente tive a oportunidade de conhecer. (Obrigada Pedro e Joana!)

Falei-vos da minha experiência na Reserva Natural da Ilha de Santa Luzia aqui, onde estive envolvida num projeto de monitorização e conservação de tartarugas marinhas da espécie Caretta Caretta. Nessa altura, não abordei este assunto de forma de propositada, mas chegou a hora de o fazer.

A primeira vez que vi a Praia dos Achados não queria acreditar no que os meus olhos me mostravam. Tinha ouvido dizer que a praia tinha esse nome devido às coisas que lá se podiam encontrar, mas nada me preparou para o cenário dantesco que encontrei.

A primeira sensação foi choque. A segunda foi raiva e a terceira foi impotência. Nunca me senti tão impotente em toda a minha vida. Ver os ninhos, os rastros, as tartarugas (e outros animais) pelo meio deste mar de lixo, é desolador. Faz-nos questionar muito acerca de nós, do nosso estilo de vida. Faz-nos pensar no que raio é que andamos cá a fazer.

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Esta imagem não faz jus à imensidão de lixo que por lá existe. Acreditem que só vendo.

Para todos os que acham que isto se resolve com uma simples limpeza de praia (que de simples não tem absolutamente nada – estamos a falar de uma ilha deserta), como eu ingenuamente achei nos primeiros minutos (na segunda fase – a da raiva), posso garantir-vos que a Biosfera1 e a SPEA (as duas entidades encarregues da gestão da reserva) são incansáveis e que organizam estas ações algumas vezes por ano, com toda a preparação e logística louca que isso acarreta.

O problema, é que este lixo não vem da ilha, este lixo vem do mar.

Durante meia hora, a Joana e o Pedro andaram a vasculhar pela praia e descobriram coisas provenientes de pelo menos 25 países. Meia hora. Lá pelo meio, encontraram também coisas do nosso Portugal – logo nós, que nos achamos tão evoluídos nestes assuntos.

Por mais limpezas que se façam, o lixo vai continuar a aparecer, às vezes logo passadas algumas horas. A “culpa” é das marés e das correntes marinhas, que fazem com que nesta praia se deposite algum (uma ínfima parte) do lixo que se encontra nos nossos oceanos.

Na verdade, a culpa é nossa, da nossa inconsciência e da nossa atitude perante a nossa casa. A culpa é nossa. Se calhar mais nossa, países do primeiro mundo, do que dos países em desenvolvimento. Nós temos as ferramentas, temos a informação, temos as alternativas. No entanto, continuamos a optar pelo que é mais fácil e a esperar que quem venha a seguir resolva o problema (perdoem-me a generalização).

Estima-se que até 2050 haja mais plástico que peixe no oceano e está mais que provado que o plástico já faz parte da nossa cadeia alimentar. Mas nem só de plástico se faz o lixo nos oceanos, por isso pensem nas implicações que isto pode ter no nosso (já de si frágil) ecossistema. Cada vez mais baleias, golfinhos, tubarões aparecem mortos por ingestão de lixo. As aves marinhas e os animais terrestres também não sou poupados e morrem cada vez mais à fome, com o estômago cheio de plástico ou então envolvidos em algo que os impede de se alimentarem.

Importa fazermos algo pelos nossos oceanos, pelos nossos animais. Importa tomarmos consciência. Importa exigirmos aos nossos governos que tomem medidas para mitigar estas situações!

Para começar, podemos todos assinar esta petição, para que o parlamento europeu invista na proteção e reparação dos nossos oceanos, aqui.

 

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