Eco-Ansiedade

«Quando foi a última vez que se sentiu confuso em relação às escolhas que tem de fazer diariamente para que o seu impacto no mundo seja o mais positivo possível? Se está a ler este livro é porque – muito provavelmente – se preocupa com as questões ambientais que assolam a Terra, percebe a insustentabilidade do nosso estilo de vida atual e quer fazer a sua parte para que os seus filhos e os seus netos possam viver num planeta sadio, com qualidade de vida e segurança, com ar puro, um mar limpo e florestas ancestrais onde se possa respirar saúde.

Nesta busca incessante pelo que é certo, pelo que é melhor e, seguramente, pelo que é «menos mau», como é que é que pode saber o que é bom e o que é apenas desinformação? Como saber se o que está a fazer é benéfico ou tem impactos ocultos escondidos? Como pode saber se a informação que lhe apresentam é verdadeira?

E, de repente, o coração começa a acelerar, a respiração torna-se ofegante, a cabeça não para de pensar – um pensamento atrás do outro, em catadupa, e muitas vezes contraditórios, sem nexo, sem sentido, afinal com todo o sentido, será? – as palmas das mãos começam a ficar suadas, o sentimento de impotência apodera-se de si, a inevitabilidade, o caos, a falta de sensibilização das pessoas à sua volta, os atos contraditórios, o saber que o muito que se faz pode ser pouco… E, por fim a apatia apodera-se de si. Este diagnóstico soa-lhe familiar? Pois bem, trata-se de uma das mais recentes patologias modernas, a «eco-ansiedade».

Parece algo saído de qualquer filme de ficção, mas acredite, é bastante real. Nos últimos anos, o transtorno de eco-ansiedade tem sido recorrente nos consultórios de psicologia e psiquiatria, com os pacientes a apresentar os sintomas tradicionais de ansiedade, depressão e síndrome de pânico, como consequência do stresse causado por questões ambientais[i]. Os sintomas da patologia são muitas vezes potenciados pelas notícias recorrentes sobre fenómenos climáticos extremos ou a inevitabilidade do fim, em textos ou peças jornalísticas com um tom um tanto ou quanto catastrófico.

O ser humano, por defeito, é enviesado. O viés da negatividade[ii], também conhecido como o efeito da negatividade (negativity bias, no original), por exemplo, faz com que a maioria das pessoas veja tudo a duas cores, preto ou branco, negativo ou menos negativo. É normal, mas não deveria ser. É o espelho da nossa tendência de vermos sempre tudo o que está menos bem, demorando-nos mais neste tipo de sentimentos do que em coisas positivas. Quando a nossa forma de ver o mundo é negativa, todas as nossas ações e todos os nossos pensamentos vão ser afetados por ela. A nossa capacidade de reação é menor e a probabilidade de que fiquemos carrancudos, cínicos e com um elevado grau de apatia perante questões que pedem tudo menos isso é preocupante. No entanto, e se deixar de ser manipulado pelo seu cérebro, irá perceber que, apesar das questões prementes que devemos endereçar relativas ao nosso estilo de vida, a verdade é que vivemos numa das melhores épocas desde que nos podemos considerar humanos, em termos de saúde, segurança ou educação. Sim, mesmo considerando o que se vive nos países menos desenvolvidos. Há cem anos era consideravelmente pior, não acha?[iii] De forma complementar ao viés da negatividade, temos também o viés da confirmação[iv] (ou confirmation bias, no original). Aqui, dá-se outro fenómeno interessante ao nível do nosso pensamento: como humanos, temos tendência a procurar sempre confirmação das coisas em que já acreditamos. Trocado por miúdos: se acredita que não existe nada a fazer para revertermos os efeitos das alterações climáticas no planeta, então é provável que procure informação que valide a sua crença – e, acredite, vai encontrá-la – mesmo que isso não seja inteiramente verdade. O viés da confirmação aplica-se a tudo na nossa vida: tudo é subjetivo e a forma como vemos alguma coisa depende sempre das nossas crenças, experiências e individualidade pessoal. E, como existem sempre dois lados da moeda para tudo, é muito provável que encontre sempre dados ou estudos que confirmem aquilo em que já acredita (ou que está inclinado para acreditar).»

Excerto do meu livro «Defender o Futuro – Manual para o Cidadão Consciente»,
Parte 1, Capítulo «Eco-Ansiedade»


[i] https://time.com/5735388/climate-change-eco-anxiety/
[ii]https://positivepsychology.com/3-steps-negativity-bias/
[iii]Nota da autora: à data de escrita deste capítulo, esta informação era efetivamente verdadeira. No entanto, com tudo o que tem vindo a acontecer relativamente à pandemia lançada pela chegada do novo coronavírus, esta informação pode parecer menos correta. No entanto, se pensar nas doenças que assolaram a humanidade no passado, poderá claramente perceber que temos muito mais capacidade de lidar com estas questões atualmente, diminuindo drasticamente o número de mortes que o vírus provocaria se aparecesse, por exemplo, há 100 anos. Não se pretende, de todo, romantizar a situação, mas a verdade é que estamos muito mais preparados que nunca para fazer face a este tipo de situações. Já viu, por exemplo, a rapidez com que se encetaram esforços para que fosse desenvolvida e comercializada uma vacina?
[iv] https://www.psychologytoday.com/us/blog/science-choice/201504/what-is-confirmation-bias

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