Mudar de vida, ou a razão da minha ausência

Há já algum tempo que vos queria escrever este texto, mas as palavras teimavam em não querer sair. É uma espécie de mea culpa pela minha ausência aqui do Âncora, misturado com uma breve história da minha vida.

Comecemos pelo princípio.

Desde pequena, sempre carreguei o meu lixo até ao contentor mais próximo e era impensável atirá-lo para o chão ou deixá-lo ficar para trás depois de algum piquenique. A reciclagem esteve sempre presente e o desperdício nunca existiu em minha casa. As roupas eram passadas dos primos mais velhos para os mais novos, e tudo se levava à costureira e ao sapateiro para arranjar e dar uma nova vida às peças e ao calçado. Os eletrodomésticos e os artigos do lar também eram sempre tratados com respeito e seguiam o mesmo esquema: arranjar quando se estragavam. Fui educada de forma a dar valor ao que tinha, a preservar e a cuidar. Tenho que agradecer à minha mãe por isso.

A minha consciência ecológica começou quando ainda era uma criança, mas a pessoa em que me tornei nunca esteve nos meus planos. E ainda bem, caso contrário tenho a certeza que não estava onde estou agora.

Por isto mesmo, o meu percurso académico foi muito diferente daquele de uma pessoa que desde pequena sabe que quer ser Bióloga ou Engenheira Ambiental. Acabei por formar-me em Comunicação e a entrar no mercado de trabalho nesta mesma área. Como estamos sempre em constante evolução acabei, ao final de algum tempo, por assumir outras funções mais afastadas da minha área de formação e ao fim de pouco tempo tinha total autonomia para gerir o meu tempo e o meu trabalho. À primeira vista, tudo parecia correr bem, emprego estável e perto de casa. Exceto que todas as células do meu corpo gritavam que não era aquela a minha missão, que não era por isso que tinha vindo ao mundo.

Nesta altura, as minhas preocupações ambientais eram muito gritantes e comecei a ser assaltada por um sentimento muito negativo: a revolta. Ficava revoltada quando as pessoas não faziam a separação do lixo, quando consumiam de forma descontrolada, ou sempre que mostravam indiferença perante todas as atrocidades que vamos fazendo ao nosso planeta. Revoltava-me a passividade das pessoas. E, acima de tudo, revoltava-me a minha própria passividade perante as atitudes dos outros.

Como forma de extravasar toda esta energia acumulada e tentar promover alguma mudança, no início de 2017 comecei a idealizar este projeto, o meu Âncora Verde, que surgiu da minha vontade de mudar mentalidades, alterar comportamentos e tornar as pessoas mais conscientes da relação causa-efeito das suas decisões. Foi lançado oficialmente em setembro de 2017 e o que começou por ser um “escape” rapidamente se tornou num objetivo e num projeto sólido e com pernas para andar. Pela primeira vez em muito tempo, senti que tinha um propósito.

Era como se uma parte de mim, que tinha estado adormecida, tivesse acordado com a máxima força. Acabou por se tornar um tormento ir trabalhar, tinha ataques de ansiedade, pesadelos constantes e desenvolvi um distúrbio com a comida. Quando fiz 29 anos disse basta. Basta de tentar fechar cá dentro o que quer ser solto, basta de fechar os olhos e de virar a cara. Basta.

Saí do meu emprego de 5 anos em junho deste ano. E não consigo explicar a leveza que sinto dentro do peito desde então, mesmo face ao desconhecido que aí vem.

Como não posso mudar o passado, decidi aliar as minhas valências académicas, em comunicação, com a minha paixão, a área ambiental, e criar projetos com impacto ambiental e social na nossa sociedade. Esse passou a ser o meu lema de vida: criar projetos com impacto. Em setembro deste ano, nasceu o meu segundo projeto, a Raízes Mag, uma revista online sobre ambiente e sustentabilidade, em parceria com o The Uniplanet, e que podem espreitar aqui.

No entanto, um pequeno pormenor: sou de comunicação e, da parte ambiental, só mesmo a paixão. E é aqui que começa o silêncio do Âncora: durante 7 semanas estive envolvida num projeto de ambiente e conservação da natureza na Serra de Sintra e, durante outras 9 semanas, num projeto de educação e sensibilização ambiental em Cabo Verde. Foram duas experiências incríveis e, durante os próximos dias, vou contar-vos tudo sobre estas aventuras. 😉

Depois disto tudo, só uma certeza: não vou parar por aqui!

O meu compromisso com o ambiente é muito simples e está presente em tudo o que faço: proteger, preservar, educar e informar.

Sempre acreditei quando me diziam que uma pessoa não pode fazer a diferença, mas agora sei o quanto essa ideia está errada. Uma pessoa PODE fazer a diferença. Todos podemos. Basta querermos. E eu quero.

 

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7 thoughts on “Mudar de vida, ou a razão da minha ausência

  1. Josi says:

    Lendo seu post Leila me identifiquei em muitos pontos! Me revolta em algum passeio pela praia ou na Serra ver como tão facilmente as pessoas abandonam ali seu lixo. Decidi também fazer a minha parte em todos os lugares. Fico feliz que continuará com o blog e que está direcionando seu carreira para o que realmente gosta. Abraços

  2. Lina Santos says:

    Muito bem gostei muito ..
    A Leila que eu vi nascer e crescer tornou-se numa pessoa responsável por ela e por todos nós que temos o dever de fazer e pouco se faz para que o mundo seja melhor..estou orgulhosa por ti parabéns continua assim és um exemplo a seguir bjos

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