#RealStories: o que se passa nas fábricas

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Faz hoje 5 anos que o edifício do Rana Plaza ruiu. Cinco anos. Um dos acontecimentos mais chocantes dos últimos anos e que deveria ter levado a muitas mudanças de atitude por parte da indústria da moda.

Infelizmente, isso não aconteceu e ainda hoje estes trabalhadores são obrigados a operar em condições deploráveis, a salários infimamente baixos, sem condições, sem seguros, sem terem como lutar pelos seus direitos.

Para quem não se recorda, o Rana Plaza era um edifício de 8 andares que abrigava diversas fábricas de roupa e que desabou, a 24 de abril de 2013, matando mais de 1000 trabalhadores e ferindo inúmeros outros. No momento do colapso, é estimado que estivessem no edifício mais de 5000 pessoas. Os trabalhadores, sem qualquer tipo de direitos, foram obrigados a ir trabalhar, mesmo depois de terem alertado os supervisores no dia anterior de alterações na estrutura do prédio. Aqui, e no que ficou conhecido como o maior desastre da indústria têxtil, fabricava-se roupa para marcas como a Benetton, a Primark ou a H&M.

Rana Plaza

Rana Plaza, Dhaka, Bangladesh. 24 de abril de 2013.

O CUSTO HUMANO DA MODA

A verdade, é que os trabalhadores têxteis dos países em desenvolvimento pagam um preço demasiado alto pela nossa moda barata. E no 5.º aniversário do Rana Plaza, as suas vozes continuam a ser silenciadas por esta indústria. Os trabalhadores, que são na sua esmagadora maioria mulheres, continuam a ser forçados a trabalhar entre 14 a 16 horas por dia, seis dias por semana, enfrentando diariamente assédios verbais e sexuais por parte das chefias. Continuam a ganhar ordenados que não lhes permitem sequer pagar uma renda num bairro de lata ou comer 3 vezes ao dia.

As grandes empresas de moda procuram – a qualquer custo – encontrar os locais de produção mais baratos e que façam os trabalhos no menor período de tempo possível. Como, infelizmente, estes países necessitam desta indústria para sobreviver, as fábricas sujeitam-se a aceitar preços irrisórios e prazos humanamente impossíveis de cumprir. E se uma fábrica se recusar a aceitar estas condições, existem mais duas ou três prontas para as aceitar. A exploração dos trabalhadores parece ser a norma, e as grandes marcas não se preocupam verdadeiramente sobre quem faz as suas roupas, apenas querem que as façam.

O trabalho infantil também é uma realidade gritante nestes países, já que muitas vezes as famílias têm que empregar os seus filhos para conseguirem sobreviver.

Aquilo que nos dá poder a nós (ou assim pensamos), a moda, tira-o a milhões de jovens raparigas e mulheres, que são apanhadas pela teia negra da indústria. A maioria delas ganha menos de 3 dólares por dia e não têm qualquer possibilidade de procurar melhores oportunidades.

São as nossas escolhas que ditam o futuro da indústria, quer queiramos aceitar isso ou continuar a ignorar este problema. Por isso, pergunto-vos: querem mesmo continuar a compactuar com uma indústria que explora, maltrata e empobrece milhões de trabalhadores?

Sei que isto acontece longe, e que é uma realidade que não vemos, mas queremos realmente continuar a fazer de conta que não existe? Eu tenho a certeza absoluta que não quero. Felizmente, já somos muitos a pensar assim, a alterar os nossos hábitos de consumo por uma indústria mais justa e mais sustentável, mas ainda não somos suficientes. Enquanto não formos todos a exigir uma mudança, o problema vai continuar a existir – só que de formas mais dissimuladas.

Aconselho a verem o documentário The True Cost (a minha opinião aqui), para perceberem os reais impactos desta indústria. Este é um daqueles casos em que acredito mesmo que as imagens são muito mais poderosas do que tudo aquilo que se possa dizer.

E tu, sabes quem fez a tua roupa?

 

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